Primeiro solo da carreira do ator Vinicius Bustani, "Criança Viada ou de como me disseram que eu era gay" tem como tema o preconceito fruto da homofobia e suas implicações na vida de uma pessoa LGBT desde a infância até a vida adulta. A peça, que tem texto do próprio ator e direção e dramaturgia de Paula Lice, lança mão do gênero documental para falar sobre o isolamento que se impõe às crianças e adolescentes que não se enquadram nos padrões de comportamento heteronormativos.
O espetáculo propõe, desde o título, uma reflexão sobre a homofobia velada e naturalizada nas nossas relações cotidianas. Se a livre expressão de gênero não tem implicação na orientação da sexualidade, a Criança Viada vem para estimular a sensibilidade crítica, em busca de acolhimento e empatia.
A cena é pensada para palco italiano ou salas de aula, em uma conformação que respeita a frontalidade ou o círculo. Existe uma intenção de diálogo e alusão a uma pedagogia das emoções e da reflexão. O ator, ora se posiciona como personagem, ora se posiciona como si mesmo, partindo do pressuposto de que é tudo ficção e tudo verdade. Algumas cenas propõem interação com o público e poucas mantém fechada a quarta parede. Trata-se de uma cena porosa, aberta à relação com o outro.